Alívio

Hospital de Canguçu irá retomar as cirurgias eletivas

Com pouco mais de dois meses de intervenção da prefeitura, salários estão em dia

Paulo Rossi -

Depois de mais de três anos de grave crise financeira, o sentimento é de alívio entre funcionários e usuários do Hospital de Caridade de Canguçu. Os trabalhadores que viveram o tormento de ficar até três meses sem os salários, agora, têm recebido em dia. Os pacientes, inclusive da região, podem festejar: os serviços vêm sendo normalizados. As cirurgias eletivas, suspensas desde 2017, devem ser retomadas até o início do mês de abril. São efeitos da intervenção da prefeitura, que passou a responder temporariamente pela gestão desde o final de dezembro.

A fase é de tratativas com o Banrisul, com vistas a um empréstimo que permita quitar e renegociar ao menos parte das dívidas que chegam a um total de aproximadamente R$ 25 milhões. “Estamos estudando formas de quitar o passivo que herdamos, mas ainda não existe nada concreto”, afirma o gestor administrativo Gabriel Andina, sem detalhar valores.

Um Plano de Custos também é elaborado para analisar a possibilidade de os dez leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) - fechados desde agosto de 2016 - serem reabertos. A gestão, entretanto, não trabalha com prazos definidos para recolocá-la em operação. Antes, os repasses estaduais e federais precisariam estar totalmente definidos para assegurar as despesas com materiais, medicações e equipe. “É necessário ter a garantia de futuro com financiamento para cobrir os custos. Só reabriremos com condições técnicas e financeiras de abrir e manter o serviço”, sustenta Andina e assegura que o levantamento ainda não permite revelar cifras.

A palavra geral é alívio
Não faltam razões para comemorar. E os motivos parecem inacreditáveis, mas em um cenário de crise acentuada na rede hospitalar, ter estoque de materiais para procedimentos e de medicação para suprir os tratamentos transforma-se, sim, em razão para festejar. “Em momentos mais críticos, não tínhamos nem soro fisiológico. Antibiótico também era difícil”, conta a técnica em Enfermagem, Luciara Luna Lira. E, em meio à escassez, não havia outro jeito: era preciso suspender os atendimentos.

Quem depende da estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) respira aliviado. É o caso da família do agricultor Dinarte Oliveira Duarte, 88, que na última semana precisou retornar ao hospital, após 23 dias da última alta. De novo, foram os problemas cardíacos e pulmonares que se agravaram: “Ainda bem que a gente pode tá aqui, porque já teve uma fase bem complicada”, afirma o filho Emir Duarte, 53. E lembra das oportunidades em que o pai, morador de Florida, no interior de Canguçu, tratou de recorrer a economias para comprar donativos e encaminhar ao Hospital de Caridade.

A lourenciana Daiane Behling, 32, não planejava viver a incerteza de onde nasceria o terceiro filho, mas a chegada do pequeno Valentim foi exatamente assim. Sem obstetra de plantão na Santa Casa de São Lourenço, devido ao feriadão de Carnaval, a família foi orientada a procurar o hospital de Canguçu, depois de ser cogitada hospitalização em Pelotas e em Rio Grande. “O pessoal já tava de sobreaviso aqui. Aí ligamos às 4h da manhã e avisamos que estávamos vindo”, conta o marido. Às 6h50min nascia, de parto normal, o gurizão de 3,5 quilos e 50 centímetros.

Nestes últimos dias, o Hospital de Caridade ampliou - temporariamente - a referência às grávidas de baixo risco. Além das gestantes de Santana da Boa Vista e de Morro Redondo, a Maternidade ficou de prontidão para receber as pacientes de Pedro Osório, de Cerrito e de São Lourenço do Sul. São situações que confirmam o processo de retomada da instituição. “Hoje nós temos mais ânimo e mais segurança para trabalhar. Antes, sem salário e com pouco material, não tínhamos nem condições psicológicas de trabalhar”, resume Luciara. E, mais uma vez como porta-voz dos trabalhadores, a técnica em Enfermagem reitera: “Uma hora esta luta ia ter que acabar. Foram mais de três anos de sufoco”.

Relembre
Em dezembro de 2015, um primeiro decreto de calamidade pública no setor hospitalar chegou a ser assinado pela prefeitura. De lá para cá foram inúmeras as vezes em que o fantasma do fechamento rondou a Unidade. Greve dos funcionários para pressionar o pagamento de salários, atrasos no repasse de verbas do governo do Estado, críticas por má-gestão ao longo dos anos e interrupção de serviços.

Fechamento dos dez leitos de UTI, suspensões das internações clínicas, cancelamento de cirurgias eletivas e de exames laboratoriais. Um hospital inteiro praticamente parado, em momentos de pico na crise. Um cenário que, aos poucos, fica para trás e abre espaço para esta nova etapa, que contou até com consultoria do Hospital Sírio-Libanês - um dos mais importantes centros médicos da América Latina -, no final de 2018.

Conheça alguns números atualizados
►Leitos: 120
►Funcionários: 178
►Folha de pagamento: cerca de R$ 350 mil
►Repasses da prefeitura: saltaram de R$ 221,3 mil para uma média de R$ 371 mil por mês
►Cirurgias eletivas: 30 por mês - possivelmente a partir de abril

 

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